Percurso longo tem a vantagem de poder entender o assunto e acompanhá-lo até o fim.
Mas teria descido alguns pontos antes se soubesse o desfecho da conversa.
Entrei no ônibus e sentei uns 2 bancos a frente da cobradora e logo ouvi uma voz masculina, grave e alta, afirmando: “- Dilma vai ganhar, nem tem como. Aquela mais bonita! Que a outra é a mais feia sabe!?”
Foi inevitável escutar e não me interessar; queria saber aonde chegaria essa conversa.
Foi então que ouvi uma segunda voz, agora feminina, interpolando que realmente a Marina não tem muita vaidade, mas é uma ótima candidata e tem propostas bem legais.
E a conversa seguiu, com o homem dizendo que os outros só queriam mesmo embolsar dinheiro. E a mulher explanando sobre Chico Mendes e a semelhança entre a luta dele com a da Marina, e que os outros são todos capitalistas.
Ela falava também que admira a Eloisa Helena, que como Marina não liga pra vaidade e que dificilmente ganham, só mesmo com muita luta como foi com Lula.
Nossa! Me bateu uma curiosidade gigantesca, queria saber quem era esta mulher que tão bem discursava sobre política.
Não resisti, me virei para trás e puder ver que quem discutia política brasileira era a cobradora e um homem sentado bem atrás dela.
Achei engraçado a discrepância dos comentários dos dois, falavam do mesmo assunto, mas de pontos de vista tão distintos, mas de certa forma ambos concordavam com os comentários do outro.
O ônibus seguia viagem e o homem falava interruptamente, alternando assuntos.
Ele falou sobre o funcionalismo municipal, que está a 14 anos sem aumento, afirmando que nunca trabalharia na prefeitura da cidade, que isso é desumano.
No caminho avista-se uma obra, e o homem segue discursando, que ali ele também não trabalharia, nem mesmo por 10 mil reais por dia. (Sério! Ele falou isso). Que já haviam morrido trabalhadores ali, que não havia segurança e que ele quer viver e não vende a vida dele por nada.
Não sei se o percurso era tão grande para tanto assunto ou se eram as palavras que saiam da boca dele com velocidade demais.
Só sei que a voz da mulher não mais se fez ouvir. Acredito que não rolou afinidade na conversa. Eram 2 pessoas a falar sozinhas.
Mas o homem seguia a falar, acabei me desligando um pouco, quando novamente a voz dele me desviou a atenção. Ele perguntava: “-Você já veio nesse mercado?” (Quando passávamos em frente a um mercado atacadista).
E nenhuma resposta escutei.
Logo em seguida passávamos pelo cemitério, quando ele lançou nova pergunta: “- Tem alguém da sua família nesse cemitério?”
Novamente resposta alguma foi ouvida, mas acredito num balançar de cabeça, pois ele prosseguiu o assunto: “- Meu pai, minha mão e minha irmã estão aí.”
Foi quando deveria ter dado sinal e abortado as palavras seguintes. Palavras que escreverei na íntegra, pois impossível seria escrevê-las em outras palavras.
Disse o homem: “- Muito chato perder entes queridos né!? Mas isso é culpa da Eva, que lá no paraíso não escutou Deus. Você sabe né!? Lá na Arca de Noé, Deus criou um casal de cada animal, e não podia deixar de criar o casal humano!” (Sério!?!? Poderia sim, quantos casais ele não criou e nem conhecemos!? E foi na Arca que ocorreu toda essa criação!?)
“- Mas Eva escutou a serpente e pecou. Que mulher filha da puta! Agora por causa dela temos pobreza, desigualdades, catástrofes, dor e etc. Se ela tivesse ouvido a Deus nem morreríamos. Coitado do Adão! Eva é a mulher mais filha da puta que tem!”
POR FAVOR! PARA O ÔNIBUS QUE QUERO DESCER!
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